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Heráclito: tudo flui

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Heráclito é um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Éfeso, na Grécia Antiga, aproximadamente no ano de 535 a.C. e morreu em 475 a.C. Essa cidade fica perto de Mileto, onde nasceu a filosofia.  Como os demais pré-socráticos, se dedicou à investigação da natureza, mas também foi além, explorando outros domínios, como a política e a ética. É lembrado sobretudo por sua afirmação de que, na natureza, “tudo flui”.

Heráclito não era uma pessoa muito sociável. Pelo contrário, era desdenhoso e aparentemente desprezava as pessoas. Tanto que não quis participar da política – algo bastante valorizado entre os gregos – e mesmo quando foi convidado a redigir leis para a cidade, recusou.

Escreveu um livro cujo título é “Sobre a Natureza” do qual restaram alguns fragmentos. Pelo estilo empregado na escrita, Heráclito ficou conhecido como “o obscuro”. Quando perguntado por que escrevia de maneira difícil, respondeu que o fazia para evitar a ilusão daqueles que leem coisas aparentemente fáceis e pensam entender o que de fato não entendem.

Apesar de obscuro, seus escritos escondem ideias valiosas.

Ideias de Heráclito

Tudo flui

Dos fragmentos que restaram do livro de Heráclito certamente o mais conhecido é o seguinte:

“Não se pode descer duas vezes o mesmo rio, e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado, pois por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, ela se dispersa e se reúne, vem e vai. (…) Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio, nós próprios somos e não somos.”

Para Heráclito, as aparências enganam. Ao chegarmos em um rio que já conhecemos em outra ocasião, pensamos ser este o mesmo rio de antes. Porém, dado o fluxo constante de água, já não é mais o mesmo. A água que existia antes já desceu rio abaixo e a que vejo agora é uma nova. Nós também não somos mais os mesmo, já que nosso corpo sofre um processo de constante mudança. E não só isso, o simples fato de entrarmos na água promove uma alteração em nosso corpo.

Também é em razão dessa mudança constante que Heráclito diz que “somos e não somos”. Nós somos algo num instante e não somos mais aquilo que éramos antes de ser o que somos agora. Se somos uma pessoa molhada em um rio, não somos mais a pessoa que estava com calor e gostaria de se refrescar.

O filósofo pensa que o fluir constante não é apenas uma característica da vida de seres humanos e de rios, mas da realidade como um todo. Isso vale para as rochas, os planetas, as plantas, animais, estações e até mesmo para materiais quase indestrutíveis como diamantes. Tudo flui.

A harmonia dos contrários

Outra característica fundamental da natureza para Heráclito é o fato de que tudo é formado de contrários: o quente e o frio, o dia e a noite, o inverno e o verão, a vida e a morte. A mudança, o “tudo flui” é sempre a passagem de um contrário ao outro. A criança que se torna velho, o seco que se torna úmido e assim sucessivamente.

O filósofo descreve esse processo como uma “guerra” e entende que é a guerra a força por trás do movimento constante da natureza. E o resultado final dessa guerra não é a desunião, mas uma “harmonia dos contrários”, porque no fundo “tudo é um”. O jovem e o velho são a mesma coisa, porque esse será aquele quando mudar e aquele será esse. O mesmo ocorre com o calor e o frio e os demais contrários.

Heráclito pensa que as coisas têm sentido graças ao seus contrários:

“a doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade, o cansaço torna doce o repouso. Não se conheceria sequer o nome da justiça se ela não fosse ofendida.”

Ou seja, se não existissem doenças, não teria valor a saúde, se não existissem injustiças, sequer saberíamos o que é a justiça. Se não houvesse a morte, o que pensaríamos da vida?

O fogo é a origem de todas as coisas

Assim como os demais filósofos pré-socráticos, Heráclito pensava existir um elemento básico na natureza que constitui todos os demais. Tales de Mileto dizia que esse era a água, Anaxímenes o ar e Heráclito pensava ser o fogo. É através de transformações desse elemento que tudo vem a ser o que é.

Política

Em um dos fragmentos que restaram do livro Sobre a Natureza, Heráclito recomenda que seus concidadãos se enforquem por terem banido seu líder mais destacado. Provavelmente, era totalmente contrário ao governo democrático, por pensar que o povo não passa de um bando de ignorantes. Defendia que o melhor era um governo aristocrático de sábios, onde os mais capacitados tomam as decisões.

Referências consultadas

Diógenes Laércio. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988, p 251-255.

Giovanni Reale. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus Editora, 1990, pp. 35-38.